Em nome da fé, uma comunidade de várias famílias vive isolada em uma espécie de condomínio no entorno da capital capixaba. Mais de 200 fiéis agregados à comunidade Tabernáculo Vitória, localizada no Bairro Santa Teresa, na periferia da cidade, vivem praticamente a margem da sociedade.
Por trás de uma parede de concreto, os membros da comunidade moram em quitinetes erguidas dentro dos limites territoriais da própria igreja. Só quem vive dentro dessa 'fortaleza' pode freqüentar os cultos. Um templo diferente daqueles que muitos religiosos costumam freqüentar.
É nesse ambiente, que os moradores aguardam o retorno de Jesus à terra: o Dia da Salvação. Mas para morar ali, tiveram que pagar um preço, que muita gente sequer imagina: todos os fiéis que se agregam à comunidade se desfazem de bens pessoais e os entregam para a administração do local para ajudarem na manutenção das quitinetes, contam vizinhos do Tabernáculo.
E, não são somente os serviços ligados a fé que podem ser encontrados por lá. A alimentação é comprada pelos fiéis no restaurante localizado no terreno do templo. Fora os fiéis, ninguém tem acesso às dependências internas do Tabernáculo Vitória. As encomendas, como gás, remédios, comida, entre outros itens, são deixadas pelos entregadores na portaria do prédio para que sejam transportadas para dentro da comunidade pelos próprios fiéis.
De acordo com o site da comunidade, os cultos são realizados às segundas, quartas e sextas-feira às 19h30, e domingo às 18h. No entanto, uma funcionária da igreja, identificada como Ana Paula, informou que os cultos são fechados aos membros da comunidade que vivem nas quitinetes, mas que ultimamente não estão ocorrendo, sem dizer os motivos pelos quais foram suspensos.
A afirmação da funcionária foi confirmada por moradores vizinhos ao prédio. O operário Alan Amaral contou que há anos ele mora na rua, mas nunca assistiu nenhum culto porque são celebrados sempre a portas fechadas. Nem mesmo os fiéis que moram nas dependências conversam com a vizinhança.
"Ninguém tem acesso a essa igreja. Tem um membro da igreja que ele ficou na comunidade durante 20 anos. Ele disse que iniciou aos 17 e saiu com 37 anos. A esposa, que continua morando na quitinete, pediu o divórcio e ele não pode mais entrar na igreja nem para ver os filhos que estão lá dentro. Ele mesmo veio aqui conversar conosco e disse que está muito triste pois não pode conversar com os filhos. Ele disse que saiu da comunidade pois não iria mais vender os bens dele para dar a igreja", conta o operário.
Esse ex-membro da igreja contou a outro vizinho da comunidade, Aídson Dantas, que decidiu sair após perguntar ao presidente do Tabernáculo, pastor Inereu Vieira Lopes, se ele não iria vender a caminhonete dele, uma Ranger, para ajudar nos custos da comunidade. "Ele disse que foi por ele ter perguntado sobre a Ranger que o pastor mandou que se afastasse da igreja. Só o pastor e o filho dele, que possui um Pólo, podem guardar os veículos dentro das garagens da igreja.
Na tarde desta terça-feira (17), a reportagem da Redação Integrada Rádio CBN Vitória/Gazeta On Line esteve no local, mas não pode entrar no templo. Por meio de um interfone, um porteiro afirmou que o pastor Inereu não se encontrava, apesar da caminhonete dele estar estacionada em frente ao prédio naquele momento.