A nova família, a antiga recomendação (pelo mês da família)
Presume-se que em algum lugar do passado tenha sido tarefa fácil pensar sobre família. Este parece não ser o caso do mundo contemporâneo. Se entendermos família como um grupo de pessoas que vivem sobre o mesmo teto e se caracteriza, especialmente, pelo laço sanguíneo, étnico e de ancestralidade, podemos dizer que as coisas não funcionam mais desta maneira. A família moderna, ou pós-moderna, não se amolda mais nos antigos padrões sociais. Nem sempre contém um pai, ou mesmo, uma mãe. E se existem filhos, não é de se esperar que sejam do mesmo pai, ou da mesma mãe. Pode até ser que sejam somente de um ou de outro, sem ligação de parentesco. Os casais nem sempre são casados – da forma tradicional, civil e religioso – às vezes são como namorados. A propósito, o namoro atual é como o casamento antigo, com relações mais sérias como vida sexual e financeira.
Segundo dados do IBGE nas duas últimas décadas houve uma queda substancial do tamanho da família em todas as regiões: de 4,3 pessoas por família em 1981, chegou a 3,3 pessoas em 2001. O número médio de filhos por família é de 1,6 filhos. Em 2002, o número médio de pessoas na família se manteve o mesmo em quase todas as regiões e por isso a média para o país se manteve em 3,3 pessoas, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2003. O número médio de filhos apresentou uma diferença mínima em relação ao ano anterior: de 1,6 para 1,5 filhos na família em domicílios particulares. A socióloga Ana Lúcia Sabóia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que o processo de queda do número de pessoas na família brasileira “além de intenso, aconteceu em um tempo muito curto. Nos países europeus, esse decréscimo demorou cinquenta anos”, afirmou a especialista.
O formato familiar também sofreu acomodação. Em nossos dias sabe-se de avós que cumprem o papel dos pais, ou famílias lideradas somente pela mãe, ou somente pelo pai. Há também estruturas mais complexas, com mãe e avó ou pai e avó, ou ainda, mãe e pai com padrasto e madrasta. Também casais homossexuais que passam a formar famílias de pai, pai e filho ou mãe, mãe e filho. Além disso, algumas famílias são formadas somente de irmãos e irmãs, outras somente de casais, outras de pessoas que se aproximam sem fins afetivos, mas que por diversas razões, acabam exercendo mutuamente o papel de cuidadores.
Os valores presentes na modernidade também incidem sobre os moldes familiares. O pluralismo, como capacidade multidisciplinar de interpretação das questões da existência, tão adequado aos novos contextos da civilização, favorece o surgimento de conceituações diversas sobre a qualidade e o modelo de vida. Assim, as variadas opções do comportamento humano tornam-se plausíveis numa mesma sociedade. Por consequência, surge o individualismo, que valoriza a autonomia individual em detrimento da hegemonia da comunidade, formando em cada um o status de ‘ser exclusivo’, enfatizado por conceituações pessoais em prejuízo de um comportamento familiar.
A ocorrência de fatores tão diversos faz nascer uma nova personagem social, capaz de estabelecer sua individualidade de maneira evidente, mesmo como participante de um grupo característico como a família. Este fato gera um antagonismo pessoal diante do sentimento de pertença e de autonomia, criando ambientes de proximidade e distanciamento simultâneos, onde a pessoa torna-se distante de quem é próximo e alheio de quem com ela come e dorme. Nesse contexto está a família contemporânea, como instituição reorganizada pelos diversos desafios que a vida moderna impõe.
Além de tudo isto, porém, estão fatores como afetividade e emoção, que tratam sobre quais sejam os últimos anseios da vida humana. Próximos, distantes ou em relacionamentos diversos entre pais, irmãos, padrastos, madrastas, avós e companheiros, os processos de convivência estão sempre dependentes desse fato e por mais que se queira evitar embates que envolvam a alma, como sentido do que somos, a vida sempre nos remete ao mesmo ponto, como numa insistência intensa de nos fazer viver cada vez melhor.
Um ponto importante dessa discussão está além de nossa razão, toca diretamente o coração e se traduz por uma só palavra: amor. A partir disso, nos lembra o apóstolo: “…se não tiver amor, nada serei” , quem sabe nos provocando para o fato de que para se viver, há que se amar e, de maneira mais específica, para se viver em família, há que se promover a prática desse sentimento transformador.
Se, frente aos novos momentos sociais existem desafios que unem pessoas diferentes de baixo de um mesmo teto e, ao mesmo tempo, separa os que são iguais… se a revolução de poder, ciência, sexo, direito e religião nos desestrutura em nossos antigas bases… se nem sempre existem explicações prontas para as novas situações a que somos submetidos… há de se pensar, primeiramente, em temas como respeito, tolerância, persistência e desprendimento, como valores que garantam as ligações da amizade e do bem viver. Se, como pais, filhos, parentes ou agregados, não formos capazes de garantir que o amor complete nossos espaços de diferença, num exercício permanente de quem se deseja próximo, então haveremos de lamentar a tristeza da desesperança e da separação.
Se, de tempos em tempos, for necessário, rever processos, posturas e comportamentos, precisamos saber que isto não poderá ocorrer sem antes garantir o básico da vida, a veia mestra que alimenta nossa capacidade de sonhar e sorrir, a habilidade de amar. Como lembrou o apóstolo, é impossível viver sem amar… é impossível conversar sem amar, entender, ceder, reverter, reviver.
Presume-se que em algum lugar do passado tenha sido tarefa fácil pensar sobre família. Este parece não ser o caso do mundo contemporâneo. Se entendermos família como um grupo de pessoas que vivem sobre o mesmo teto e se caracteriza, especialmente, pelo laço sanguíneo, étnico e de ancestralidade, podemos dizer que as coisas não funcionam mais desta maneira. A família moderna, ou pós-moderna, não se amolda mais nos antigos padrões sociais. Nem sempre contém um pai, ou mesmo, uma mãe. E se existem filhos, não é de se esperar que sejam do mesmo pai, ou da mesma mãe. Pode até ser que sejam somente de um ou de outro, sem ligação de parentesco. Os casais nem sempre são casados – da forma tradicional, civil e religioso – às vezes são como namorados. A propósito, o namoro atual é como o casamento antigo, com relações mais sérias como vida sexual e financeira.
Segundo dados do IBGE nas duas últimas décadas houve uma queda substancial do tamanho da família em todas as regiões: de 4,3 pessoas por família em 1981, chegou a 3,3 pessoas em 2001. O número médio de filhos por família é de 1,6 filhos. Em 2002, o número médio de pessoas na família se manteve o mesmo em quase todas as regiões e por isso a média para o país se manteve em 3,3 pessoas, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2003. O número médio de filhos apresentou uma diferença mínima em relação ao ano anterior: de 1,6 para 1,5 filhos na família em domicílios particulares. A socióloga Ana Lúcia Sabóia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que o processo de queda do número de pessoas na família brasileira “além de intenso, aconteceu em um tempo muito curto. Nos países europeus, esse decréscimo demorou cinquenta anos”, afirmou a especialista.
O formato familiar também sofreu acomodação. Em nossos dias sabe-se de avós que cumprem o papel dos pais, ou famílias lideradas somente pela mãe, ou somente pelo pai. Há também estruturas mais complexas, com mãe e avó ou pai e avó, ou ainda, mãe e pai com padrasto e madrasta. Também casais homossexuais que passam a formar famílias de pai, pai e filho ou mãe, mãe e filho. Além disso, algumas famílias são formadas somente de irmãos e irmãs, outras somente de casais, outras de pessoas que se aproximam sem fins afetivos, mas que por diversas razões, acabam exercendo mutuamente o papel de cuidadores.
Os valores presentes na modernidade também incidem sobre os moldes familiares. O pluralismo, como capacidade multidisciplinar de interpretação das questões da existência, tão adequado aos novos contextos da civilização, favorece o surgimento de conceituações diversas sobre a qualidade e o modelo de vida. Assim, as variadas opções do comportamento humano tornam-se plausíveis numa mesma sociedade. Por consequência, surge o individualismo, que valoriza a autonomia individual em detrimento da hegemonia da comunidade, formando em cada um o status de ‘ser exclusivo’, enfatizado por conceituações pessoais em prejuízo de um comportamento familiar.
A ocorrência de fatores tão diversos faz nascer uma nova personagem social, capaz de estabelecer sua individualidade de maneira evidente, mesmo como participante de um grupo característico como a família. Este fato gera um antagonismo pessoal diante do sentimento de pertença e de autonomia, criando ambientes de proximidade e distanciamento simultâneos, onde a pessoa torna-se distante de quem é próximo e alheio de quem com ela come e dorme. Nesse contexto está a família contemporânea, como instituição reorganizada pelos diversos desafios que a vida moderna impõe.
Além de tudo isto, porém, estão fatores como afetividade e emoção, que tratam sobre quais sejam os últimos anseios da vida humana. Próximos, distantes ou em relacionamentos diversos entre pais, irmãos, padrastos, madrastas, avós e companheiros, os processos de convivência estão sempre dependentes desse fato e por mais que se queira evitar embates que envolvam a alma, como sentido do que somos, a vida sempre nos remete ao mesmo ponto, como numa insistência intensa de nos fazer viver cada vez melhor.
Um ponto importante dessa discussão está além de nossa razão, toca diretamente o coração e se traduz por uma só palavra: amor. A partir disso, nos lembra o apóstolo: “…se não tiver amor, nada serei” , quem sabe nos provocando para o fato de que para se viver, há que se amar e, de maneira mais específica, para se viver em família, há que se promover a prática desse sentimento transformador.
Se, frente aos novos momentos sociais existem desafios que unem pessoas diferentes de baixo de um mesmo teto e, ao mesmo tempo, separa os que são iguais… se a revolução de poder, ciência, sexo, direito e religião nos desestrutura em nossos antigas bases… se nem sempre existem explicações prontas para as novas situações a que somos submetidos… há de se pensar, primeiramente, em temas como respeito, tolerância, persistência e desprendimento, como valores que garantam as ligações da amizade e do bem viver. Se, como pais, filhos, parentes ou agregados, não formos capazes de garantir que o amor complete nossos espaços de diferença, num exercício permanente de quem se deseja próximo, então haveremos de lamentar a tristeza da desesperança e da separação.
Se, de tempos em tempos, for necessário, rever processos, posturas e comportamentos, precisamos saber que isto não poderá ocorrer sem antes garantir o básico da vida, a veia mestra que alimenta nossa capacidade de sonhar e sorrir, a habilidade de amar. Como lembrou o apóstolo, é impossível viver sem amar… é impossível conversar sem amar, entender, ceder, reverter, reviver.