A exemplo de outros ensinos de Jesus no sermão da montanha, a proposta de Jesus tinha como alvo levar os discípulos a refletir sobre o papel que eles deveriam desempenhar em sua missão, e isto foi para eles um grande desafio. O obstáculo estava em libertar-se do sistema religioso do judaísmo onde o separatismo, as distorções na interpretação da lei e uma santidade focada na exterioridade, gradualmente os afastavam do propósito de Deus de redimir um povo escolhido por ele.
No capitulo cinco, versículo quatorze do evangelho de Mateus, Jesus compara o discípulo a uma cidade edificada sobre um monte. A comparação tem como objetivo provocar uma discussão entre os discípulos sobre a importância de serem vistos pelo mundo como suas testemunhas na missão de anunciar o evangelho. O texto me faz lembrar algumas viagens que fiz a serviço do Reino de Deus na região do Seridó e no sertão do Rio Grande do Norte, onde pude visualizar algumas casas nos altos das serras a quilômetros de distancia. Certamente, na história daquela região, milhares de viajantes tiveram o privilégio de visualizar as casas e paisagens serranas tão visíveis aos olhos.
Jesus continua ensinando, que ao exemplo da casa no alto, não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador para que toda casa seja iluminada (Mt.5.15). A candeia tem por finalidade iluminar na escuridão. Colocá-la debaixo do alqueire, recipiente usado na antiguidade para medir certas quantidades de grãos, neutralizaria sua função de clarear a casa. Colocá-la no velador (instrumento de madeira onde se colocava a candeia) seria a atitude lógica e consciente, pois todos seriam beneficiados com a luz.
O propósito de Jesus em fazer essas comparações, deveria levar os discípulos a mudar sua maneira de pensar quanto à missão de anunciar o evangelho. Eles não deveriam permanecer apenas no discurso, confinados em seu gueto religioso, mas daquele momento em diante, suas pregações deveriam estar acompanhadas de uma vida de pratica diária. A palavra deveria ser vivenciada no dia a dia daqueles discípulos.
Nessa parte do sermão da montanha, Jesus já apontava para acontecimentos futuros a cerca da obra do Espírito Santo nos discípulos. O evangelista João relata que Jesus é a própria luz (Jo.1.4-5). Essa impressionante revelação nos leva a refletir sobre a promessa de Cristo de que no verdadeiro cristão habitaria o consolador que por sua vez, haveria de se manifestar com o brilho das boas obras (Gl.5.22-23; Tg.4.5; Jo.14.23). Amor, misericórdia, compaixão, domínio próprio, mansidão, paciência e dentre outras, devem ser vistas pelos homens e, com efeito, testemunhariam de Cristo por meio dessas obras.
Em uma desafiadora missão na cidade de Antioquia, Paulo e Barnabé foram constituídos por Deus para serem luz para os gentios (At.13.47). O Médico Lucas nos informa que eles estavam convictos de sua chamada de ser luz do mundo visto que suas pregações, certamente acompanhadas de prática de vida cristã, causaram efeito transformador na vida dos moradores daquela cidade (At.13.48-49).
Ser luz é fazer diferença. Somos desafiados a viver um estilo de vida diferenciado, de maneira que o mundo veja o brilho de Cristo em nós. Não o reflexo da aparência, da auto-justificação de uma religiosidade farisaica, mas uma luz que revela o caráter de Jesus, partindo de dentro para fora, algo que precisa ser exteriorizado na prática da vida diária. Amando, perdoando, acolhendo, admoestando, falando a verdade um ao outro, suportando. Isso é luz.
Um estilo de vida que reflete o caráter de Cristo causará um efeito poderoso nos corações mergulhados nas trevas pelo pecado. Vidas sem esperança, amarguradas, carentes da Graça de Deus, vidas sem Cristo. O diabo cegou- lhes o entendimento levando-os a uma cegueira espiritual, pois estão caminhando em trevas, em um breu total, incertos sobre seu destino futuro.
A candeia debaixo do alqueire perde seu valor por não beneficiar os que estão dentro da casa. Precisa estar no lugar apropriado, no qual ele foi designado para estar. Por muitas vezes tomamos atitudes parecidas como a de monges confinados em mosteiros isolados da sociedade.Quase tudo acontece internamente. Freqüentamos os cultos semanais, temos habilidade para realizar programações festivas como aniversários e outros, nos reunimos para tratar de questões administrativas, mas são poucos os que se dispões a sair das para fora das portas. Geralmente nossas motivações estão em expressar nossa santidade apenas dentro e não fora delas.
Foi esse tipo de dicotomia que Jesus combateu entre os judeus de sua época. Para Jesus, não havia diferença entre judeu e gentil, ou seja, todos deveriam ser alcançados pela maravilhosa graça de Deus. Sua proposta era que os judeus escolhidos por Deus para desempenhar a missão de anunciar as boas novas, deveriam atravessar as fronteiras, libertar-se do preconceito religioso e ser luz para o mundo.