Durante o Estado Novo conheceu de perto as pressões da ditadura, sendo preso em 1937 e em 1939.Voltou à carreira política ao final do Estado Novo, em 1945. Foi eleito deputado federal em 1950 e em 1953, com o apoio de Juscelino Kubitschek, foi ministro da Justiça do governo do próprio Getúlio Vargas. Ficou, inclusive, ao seu lado no momento da crise que culminou no seu suicídio.Com a morte de Vargas articulou a candidatura de Juscelino Kubitschec à presidência. Em 1961, convenceu João Goulart a aceitar o parlamentarismo e assim, evitar o golpe. Nomeado primeiro presidente de Conselho dos Ministros, o regime parlamentarista não deu certo e, três anos depois, Tancredo era um dos mais ativos adversários ao golpe militar que acabou por acontecer e depor Jango.Em 1985 concorreu à presidência da república recebendo 480 votos contra 180 de seu adversário Paulo Maluf. Neves representava a esperança do cidadão brasileiro após o fracasso da campanha pelas diretas. No entanto, não chegou a tomar posse.Em 14 de março de 1985, véspera da posse, Tancredo Neves, ao lado de seus familiares, assistiu à missa em ação de graças celebrada em sua homenagem no Santuário Dom Bosco, em Brasília, pelo arcebispo de Belo Horizonte, dom João Resende Costa. No mesmo dia à noite, o chefe do serviço médico da Câmara, doutor Renault Matos Ribeiro, foi chamado às pressas para atender o presidente eleito, acometido de fortes dores abdominais. Diagnosticado de apendicite, Tancredo foi operado no Hospital de Base de Brasília pelos médicos Renault Matos Ribeiro e Pinheiro da Rocha aos 37 minutos do dia 15, dia em deveriam ocorrrer a posse e transmissão do cargo. Segundo informações transmitidas após a cirurgia, Tancredo padecia de diverticulite, doença que gera um quadro agudo, provocando dores semelhantes às crises de apendicite.
De acordo com depoimentos apurados pela imprensa, Tancredo vinha sentindo dores no abdome desde o dia 8. No dia 13, como o sofrimento aumentava, o doutor Renault recomendou que o presidente se operasse, mas ele se recusou. Tancredo teria pedido a seu médico que o sustentasse até o momento da posse, para que o processo da sucessão não fosse interrompido por qualquer acidente que propiciasse questionamentos políticos ou impasses de interpretação técnica. A seu pedido, também, os jornalistas teriam sido informados por Renault de que o presidente sofria meramente de uma faringite.
Segundo o jornal
O Globo
José Sarney tomou posse como presidente da República perante o Congresso às dez horas da manhã do mesmo dia 15, pronunciando o discurso elaborado pela assessoria de Tancredo e por ele aprovado, cuja essência fixava-se na determinação das prioridades dos gastos públicos. O ministério escolhido por Tancredo três dias antes foi mantido.
Não obstante o êxito da cirurgia, as conseqüências pós-operatórias não foram tranqüilizadoras: uma obstrução intestinal alarmou a equipe médica, que sugeriu então uma segunda intervenção cirúrgica. Nove médicos, de diferentes especialidades, foram convocados para emitir parecer a respeito do quadro que se apresentava e, por unanimidade, concluíram pela necessidade de uma segunda operação.
Tal possibilidade inquietou de novo a área política. O governo preocupava-se em não deixar a população perceber algum indício mais grave de anormalidade. A esquerda parecia propensa a iniciar nova campanha pelas diretas, o que determinaria uma contestação da decisão do Colégio Eleitoral, enquanto a direita possivelmente aguardava repercussões dramáticas do episódio para provocar a regressão das conquistas que impulsionaram o advento da República civil.
A segunda operação foi efetuada no próprio dia 20 pelos médicos Henrique Válter Pinotti, Francisco Pinheiro da Rocha e João Batista Alves. Os resultados anunciados provocaram manifestações de euforia por parte de políticos, familiares e assessores diretos de Tancredo. Cogitou-se então de uma nova data para a posse que, segundo os noticiários, vinha sendo reclamada pelo próprio presidente eleito. Não obstante, esse momento de otimismo foi conturbado por divergências no interior da equipe médica relativas à avaliação das reações do paciente, tendo sido registradas trocas de acusações nos jornais e na televisão. A controvérsia provocou constrangimentos à família do presidente eleito e suscitou temores no meio político.
Enquanto isso, a recuperação de Tancredo entrava em retrocesso. Uma crise circulatória levou à sua remoção para o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, na capital paulista, onde foi submetido, em 26 de março, a uma terceira cirurgia, realizada pela equipe do doutor Henrique Pinotti. Nesse momento o país começou a tomar ciência da gravidade do quadro. Numerosas igrejas, cultos e seitas religiosas realizaram ritos ecumênicos em favor do restabelecimento da saúde de Tancredo, tendo sido registradas manifestações populares de apreço e estímulo em diversos estados.
Após a terceira intervenção, as preocupações da equipe médica convergiram para uma nova constatação: a existência de infecção hospitalar contraída pelo paciente durante o período de internamento no Hospital de Base de Brasília. Para o combate à infecção foi utilizado um novo tipo de antibiótico ainda não comercializado, mas nem assim o organismo do presidente apresentou sinais de reação.
No dia 2 de abril Tancredo enfrentou no Instituto do Coração a sua quarta intervenção cirúrgica, com a finalidade de corrigir uma "hérnia inguinal encarcerada no lado esquerdo do abdome" e deter um foco infeccioso, conforme atestaram os boletins médicos. A partir de então a opinião pública passou a duvidar da fidelidade dos comunicados oficiais que anunciavam ausência de perigo vital no estado geral do presidente.
Nesse contexto, o ministro da Justiça, Fernando Lira, afirmou aos jornais que o quadro assumira uma maior gravidade e que a área política se preparava para fortalecer o governo Sarney, procurando eliminar gradualmente seu caráter transitório.
Uma quinta operação, destinada a drenar um foco infeccioso no local da incisão, foi realizada pouco depois das 13 horas do mesmo dia 2. As esperanças e o otimismo foram substituídos por evasivas e pelo silêncio. Políticos e familiares passaram a evitar tecer comentários sobre a situação criada pela necessidade da nova cirurgia.
No dia 9 de abril Tancredo foi submetido a uma sexta operação. Segundo os médicos, uma traqueostomia destinada a evitar o desconforto originado pela presença de um tubo oro-traqueal que, se fosse usado por muito tempo, poderia provocar lesão no local. A equipe médica ainda imporia ao presidente uma sétima cirurgia, três dias depois, com o objetivo de "exploração e limpeza da cavidade abdominal", ao final da qual foi constatado o esgotamento das possibilidades de preservar a vida de Tancredo. Pela primeira vez o porta-voz presidencial, jornalista Antônio Brito, falou em agravamento do quadro. Os médicos consideravam que todos os recursos existentes já haviam sido empregados, mas a resistência física do presidente, desde então mantido sob sedativos e com o auxílio de máquinas substituindo os pulmões e os rins, vez por outra surpreendia as pessoas diretamente envolvidas no drama, revitalizando os ânimos abatidos e fazendo renascer expectativas amortecidas.
A partir de 15 de abril, no entanto, o meio político começou a tomar as primeiras providências com o objetivo de sustentar a permanência da transição democrática no caso da morte de Tancredo. Encontros entre Ulisses, Sarney e líderes do PFL passaram a se suceder com freqüência, enquanto a imprensa internacional destacava em seus comentários ser o momento uma prova para a consolidação das mudanças geradas pela finalização do ciclo de dominação militar.
Não obstante os esforços da equipe médica, tornou-se impossível controlar tanto o edema resultante da inflamação entre as artérias e os alvéolos pulmonares quanto a proliferação dos focos infecciosos que não cediam à pressão dos antibióticos. O organismo de Tancredo não esboçava quaisquer sintomas de reativação. Como recurso final foi chamado ao Brasil o especialista norte-americano Warren Mayron Zapol, que no dia 20 de abril deu o seu diagnóstico definitivo: não havia mais o que fazer para salvar a vida do presidente.
Na noite de 21 de abril, dia consagrado à descoberta do Brasil, ao martírio de Tiradentes e à transferência da capital para Brasília, Tancredo Neves faleceu, depois de cumprir um calvário de 34 dias. Após ser embalsamado, seu corpo foi velado por toda a madrugada na capela do Instituto do Coração, na presença de parentes e amigos. Na manhã do dia seguinte, atendendo à solicitação do senador José Fragelli, o Congresso se reuniu extraordinariamente para anunciar a vacância do cargo e o seu preenchimento automático pelo vice-presidente José Sarney. Em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, Sarney decretou feriado nacional e luto oficial por oito dias e garantiu que o seu programa seria o mesmo de Tancredo.
Ainda na manhã do dia 22, após a missa de corpo presente celebrada por dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo metropolitano de São Paulo, no Instituto do Coração, o esquife presidencial, sobre um carro do corpo de bombeiros e coberto pela bandeira nacional, saiu em direção ao aeroporto de Congonhas, rumo a Brasília, acompanhado por dois milhões de pessoas. No caminho, no obelisco do Parque do Ibirapuera, o presidente eleito recebeu homenagem oficial do governo de São Paulo, do prefeito Mário Covas, do comando do II Exército e demais autoridades militares. Como homengem póstuma a Tancredo, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo determinou a suspensão da greve da categoria em curso. Ao longo de todo o trajeto pendiam das janelas das casas bandeiras brasileiras com tarjas negras.
Na capital da República, após um cortejo fúnebre que durou quatro horas, seguido por imensa multidão, o corpo de Tancredo foi velado e exposto à visitação pública no palácio do Planalto, onde o arcebispo da cidade, dom José Freire Falcão, oficiou outra missa de corpo presente.
Ainda na madrugada do dia 15, enquanto o paciente era mantido isolado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Base, o meio político se mobilizava para tentar solucionar o impasse surgido a respeito de quem assumiria a presidência em exercício: o vice-presidente José Sarney ou o presidente da Câmara, Ulisses Guimarães. Para os grupos mais radicais do PMDB, o deputado peemedebista seria a segunda pessoa na escala hierárquica da sucessão, mas o próprio Ulisses entendeu que vetar a posse de Sarney, ignorando sua condição de companheiro de chapa de Tancredo, seria o mesmo que invalidar a legitimidade da eleição verificada no Colégio Eleitoral. O argumento do presidente nacional do PMDB, escudado na opinião de constitucionalistas qualificados, acabou derrubando todas as dúvidas e versões levantadas.