
Conversar com Euza Lidório é uma lição de  vida. Em cada frase ela nos ensina algo. Isso, de forma natural e simples, quase  como quem não percebe que está sendo mestre. A impressão que tive é que ela foi  assim por toda a vida, ensinando os filhos, seus 'alunos' mais chegados. As  lições, ela as aprendeu com seu Mestre: Jesus. Euza nasceu em 1934, em  Porteirinha, norte de Minas Gerais. Aos 18 anos, casou-se com Gedeon José  Lidório, com quem teve quatro filhos. Juntos, eles plantaram mais de 100 igrejas  pelos interiores do Brasil, durante 36 anos de ministério, acompanhados por 40  mudanças. Nesta entrevista exclusiva à Raio de Luz, ela fala sobre esses tantos  anos de ministério itinerante, sobre família, criação de filhos, desafios dos  campos não alcançados e intercessão. Hoje ela coordena o Ministério de  Intercessão pelas Nações, que envolve cerca de três mil e quinhentas pessoas nas  várias regiões do Brasil. Seu testemunho de vida é marcante. Impossível ouví-la  e não sentir vontade de conhecer mais a Deus e serví-lo com mais  fidelidade.
 
Como foi o início do seu  ministério?
Comecei o ministério com o meu  marido, Gedeon José Lidório. Nós fomos enviados a várias cidades do Brasil.  Nosso trabalho era plantar igrejas, e foi isso que fizemos durante 36 anos até  1993, quando ele faleceu. Foram anos de muita luta e de muita bênção. Junto com  as tarefas das congregações, eu tinha também que cuidar dos meus  filhos.
 Os  dois primeiros, Eudalva e Gedeon Júnior, acompanharam as fases de mais  dificuldades. A vida missionária tem que ser levada com muita dependência e  obediência, assim, íamos a qualquer lugar que a missão nos enviasse. Muitas  vezes, fiquei em cidades cozinhando com lenha, não havia água encanada ou  eletricidade. Isso não era na África não! (risos) Era no Brasil mesmo, em terras  onde não se havia pregado o Evangelho.
 Nossos filhos mudaram de  colégio inúmeras vezes, mas, com a graça de Deus, eles nunca perderam nem um ano  de escola. Muitas vezes passamos por privações financeiras, nessas épocas  tínhamos na dispensa somente o necessário. Passávamos anos sem algumas comidas  mais caras. Outras vezes não tínhamos remédios, porque o lugar onde vivíamos era  muito afastado de hospitais ou farmácias. Também passamos por situações que  exigiam um tanto de coragem. Uma vez estava em um avião e tivemos que usar uma  estrada para aterrisar e decolar, porque não tinha outro lugar.
 
  Como a senhora vê a formação cristã na vida dos  filhos?Parece haver muitos filhos que  se afastam do Evangelho quando adultos. A instrução dos filhos é diária. Deve  ser regada com amor e sabedoria, mas sobretudo com a Palavra de  Deus.
Como a senhora vê a formação cristã na vida dos  filhos?Parece haver muitos filhos que  se afastam do Evangelho quando adultos. A instrução dos filhos é diária. Deve  ser regada com amor e sabedoria, mas sobretudo com a Palavra de  Deus.A  criança que é criada num lar comprometido com Deus, é feliz e não vai se  desviar, na fase da adolescência pode haver conflitos, o que é muito natural,  mas a Palavra que foi plantada vai germinar, ainda que pareça demorado aos  nossos olhos. Lembro-me de um episódio que ilustra bem o que quero dizer. Quando  Gedeon Júnior estava com um ano, recebi a visita de dezesseis pessoas na minha  casa. Eu não tinha empregada. Precisava cuidar dele e preparar tudo para receber  as pessoas. Logo neste dia ele não queria comer. Eu insistia com amor, mas ele  não abria a boca. Então, ele me olhou fechou os olhos, abaixou a cabeça e juntou  as mãozinhas para orar. Com tanta correria, eu havia me esquecido de orar, mas  ele não! Aquele acontecimento foi uma prova de que mesmo muito pequena a criança  guarda o que nós a ensinamos.
 Outra  vez, foi quando Ronaldo estava com febre. Ele tinha três anos de idade e eu não  podia comprar remédio, porque não havia onde. Eu disse a ele que não tínhamos  remédio, então eu ia orar, e Papai do céu iria curá-lo. Eu orei com ele. Logo  que terminei ele abriu os olhos e me disse: "Já sarei." A febre tinha passado  mesmo. Não tenho palavras para agradecer a Deus.
 
 E  a senhora os ensinou a fazer missões?!
Acredito que sim... Deus,  através da vida que levávamos, ensinou isso. Eles andavam conosco para todos os  lugares. Viram a fidelidade de Deus e aprenderam a serví-lo. Hoje, os quatro têm  ministérios organizados. Gedson e Gedeon Júnior são pastores, Eudalva é  missionária e Ronaldo também. Já tenho um neto muito envolvido com o ministério.  Ainda bem que sempre me preparei para deixar os filhos seguirem os caminhos do  Senhor, que podem ser bem longe de mim.
 
 Isso deve ser  difícil...
É. Envolve muito choro, muita  dor, muita oração. Não é nada fácil, mas temos que nos conscientizar que os  filhos não são propriedade dos pais, eles são herança do Senhor, tem as suas  próprias vidas, sua própria missão a seguir.
 Se os  pais não entendem isso e tentam impor sua vontade, os filhos têm muitas chances  de serem infelizes. Deus tem o melhor para nós. Eu vivo isso na minha vida,  apesar de todas as dificuldades, sou uma pessoa realizada, feliz, pois sei que  Deus está realizando sua vontade na minha vida e na dos meus filhos e netos.  Ronaldo, por exemplo, já foi preso pelo Sendero Luminoso, no Peru, teve vinte  malárias na África e ficou com tuberculose óssea.
 Ele  veio ao Brasil por causa dessa doença, ficou sarado. Muita gente pensou que ele  não iria voltar, mas eu sempre soube que ele voltaria, porque a Missão dele é  lá, pelo menos por este período da vida dele. Tanto ele quanto Rossana, sua  esposa, tiveram malária cerebral, que é gravíssima, mas ficaram curados. Ronaldo  Júnior também teve malária cerebral, logo no início deste ano. Então eu orei.  Clamei aos céus, também chamei muitos participantes do Ministério de Intercessão  pelas Nações para orar. Ronaldo Júnior foi curado, graças a Deus. O ministério é  mesmo cheio de lutas, mas não podemos parar.
 
 Como nasceu o Ministério de  Intercessão pelas nações?
Foi pouco depois que meu  marido faleceu. Eu tive oportunidades de continuar trabalhando com igrejas, como  no ministério que trabalhamos juntos. Mas vi que tinha agora outro ministério.  Ronaldo estava na África e isso me incentivou muito a orar com mais intensidade  pelos missionários, não só pelos meus filhos, mas por todos os que estão no  campo missionário nas mais diversas partes do mundo, na seara do  Senhor.
 O  ministério foi crescendo, com a bênção de Deus. Somos pessoas mobilizadas para  oração. Atualmente cerca de três mil e quinhentas pessoas estão envolvidas na  nossa rede de oração. Distribuímos mensalmente quase quatrocentos calendários de  oração, que são reproduzidos pelos vigilantes(é assim que nos chamamos). Nosso  lema é: De joelhos, alcançando as nações para Jesus. Rossana sempre me fala da  importância da intercessão. Levar o Evangelho é lutar contra o mal, lutar contra  o Diabo pelas vidas. É algo muito sério e de muita  responsabilidade.
 Temos  visto isso no nosso ministério e agradecemos a Deus por cada pessoa que faz  parte dele e por todas as respostas alcançadas, mesmo quando parecem não ser  boas aos nossos olhos, mas sabemos que é a vontade de Deus.
 
  Há muitos pais que têm coragem de entregar seus filhos a Deus para  fazerem missões?Não sei se há muitos. O que  posso dizer é que sinto ainda muita resistência por parte dos pais. Vejo muitos  jovens que querem dedicar suas vidas Deus, ir a lugares não alcançados, ou fazer  missões mesmo no Brasil. Os pais fazem seus próprios planos para os filhos, mas  o que precisam é lembrar que Deus é quem tem o melhor para nós. Os planos de  Deus sempre são os melhores. E nós devemos dar o nosso melhor para Deus, a nossa  vida, os nossos bens, nossos talentos e deixar que nossos filhos façam o  mesmo.
Há muitos pais que têm coragem de entregar seus filhos a Deus para  fazerem missões?Não sei se há muitos. O que  posso dizer é que sinto ainda muita resistência por parte dos pais. Vejo muitos  jovens que querem dedicar suas vidas Deus, ir a lugares não alcançados, ou fazer  missões mesmo no Brasil. Os pais fazem seus próprios planos para os filhos, mas  o que precisam é lembrar que Deus é quem tem o melhor para nós. Os planos de  Deus sempre são os melhores. E nós devemos dar o nosso melhor para Deus, a nossa  vida, os nossos bens, nossos talentos e deixar que nossos filhos façam o  mesmo.
 Como os jovens devem agir  diante de atitudes como esta?
A Bíblia diz que os jovens  devem honrar seus pais. É assim que os jovens devem agir. Missões não é aventura  e não é fácil. O jovem que se dispõe a obedecer o chamado de Deus deve saber  disso e deve ter sabedoria para agir corretamente, falar com os pais a respeito  do chamado que tem. Mas, antes de tudo, ele deve falar à Deus sobre os pais. Se  houver dificuldades, Deus vai dar a direção específica a cada um, e  principalmente, Ele vai dar paz a respeito de o que fazer, pois a Bíblia diz que  a paz é o árbitro, ou seja, ela dá a palavra final, e quando vem de Deus, é sem  erro.
 
 Como as igrejas têm  acompanhado seus vocacionados, seminaristas?
Algumas dão muito apoio. Mas  vejo um grande problema, que existe há muito tempo. Muitas igrejas ouvem o  vocacionado, chamam à frente da congregação, impõem as mãos, oram por ele e  mandam ir... Mas ir para onde, com que preparo? E os seminaristas? Que provações  passam... Há tantas igrejas que se comprometem e depois parecem simplesmente se  esquecer do compromisso que fizeram. Isso é muito grave.
 É um  compromisso com Deus! Muitas gastam dinheiro com coisas supérfluas e não gastam  nada com missões. É algo triste. Louvo a Deus pelo apoio que Ronaldo tem.  Durante o preparo também é imprescindível o apoio em oração, aconselhamento e  sustento para o vocacionado. Oro para que nossas igrejas despertem para essa  realidade. Se você tem um seminarista na sua igreja, por favor, se importe com  ele, ore por ele, pergunte se ele precisa do seu apoio em algo específico e faça  o que Jesus gostaria que você fizesse.
 
 Como a senhora vê os frutos  do seu ministério?
Eu e Gedeon semeamos e  colhemos muitos frutos. É o Senhor que dá o crescimento e a graça dele em nossas  vidas. Quero louvar a Deus por tudo o que Ele já fez na minha vida e por  continuar me usando, com a sua graça. Só à Ele a glória